Uma história presente na memória das gentes
Foste vivendo o dia a dia nesta freguesia
Pelos teus antepassados foi-te ensinado a fiar, a bordar, a cultivar
A trabalhar com alegria
Pelo teu próprio sustento tiveste de lutar
Fazendo carvão, vassouras, passando madeira
Toda a terra era para cultivar
E o milho para malhar na eira…
Nasceste numa época de sofrimento
No seio de uma grande família,
Conseguir comida para o dia-a-dia era um tormento
Todos trabalhavam, todos lavravam
A natureza dava o teu sustento
E quando dinheiro se queria
À confraria do Santo Lenho se recorria
Agora os anos passaram
E as vivências para memórias ficaram
As tradições foram mudando
E as crenças foram-se alterando
Crês que de tudo o que viveste nada interessa
Não te enganes, viver é conhecer
E para ouvir as tuas histórias é preciso merecer
Contaste-me como apareceu o Santo Lenho
E falas de todas as alterações religiosas com desdenho
Recordas-te dos antigos sermões
Quando te lembras dos “namoricos”
Falas dos Serões
Cantigas, concertina e pão de centeio, milho e farinha
E as idas à fonte da lingurinha
Água curativa, mouras encantadas e grandes tesouros
Medição das temperas e a luta contra os agouros
Uma época difícil vivida
Vencendo muitos gradenses
E uma grande dor sentida
Vivida por todos os residentes
Arranjador e arranjadora de tudo tratavam,
E a comunidade, nesse dia, alimentavam
Antigamente haviam as carpideiras ou mulheres de lamento
“Chorando o mal alheio por um quarto de centeio”
Presenciando todo o tormento.
Os pobres quando faleciam no esquife eram levados
E com um lençol na terra eram colocados
Terminando assim mais uma vida
Mais uma perda comunitariamente sentida.
Almeida, Susana, 2009, Vidas vividas , Experiências Acrescidas - Uma descrição etnográfica dos usos e costumes de Grade - Arcos de Valdevez. s.l., Associação Cultural e Desportiva de Grade
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